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Defensivos no campo: por que e como reduzir

Sumário

Imagine uma cidade com 70 mil habitantes onde todos estão destinados a morrer muito antes do natural. Esta cidade não existe, mas essa é a quantidade de pessoas contaminadas pelo uso de defensivos químicos anualmente em países em desenvolvimento, conforme dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O panorama é trágico e muitos não tomam conhecimento de estatísticas como essa.

Vamos ao supermercado toda semana para reabastecer a geladeira e a despensa e normalmente não sabemos como os alimentos que lá estão foram produzidos. A ideia genérica que se tem é de que os defensivos químicos são aliados importantes dos agricultores, pois controlam pragas e doenças. Entretanto, a maioria deles pode também ser vilão, se não for utilizado de forma correta.
Os efeitos negativos podem afetar toda uma cadeia produtiva. O consumidor final vai ingerir alimentos com resíduos de produtos químicos que podem ser difíceis de ser removidos. Mas o pior pode acontecer com os produtores e seus subordinados. Eles podem ter contato direto com os produtos químicos, seja por ingestão oral acidental ou contato dérmico, ou inalar doses do produto diluídas no ar durante a pulverização. Desse modo, qualquer coisa que esteja no caminho das partículas pode se tornar fonte de contaminação, como água e roupas de trabalho.
Os efeitos no corpo humano podem se manifestar de diversas formas, desde uma simples irritação na pele até um câncer. Por isso, a importância de se tentar reduzir a aplicação de defensivos químicos nos cultivos agrícolas. Sua eliminação total é possível? Definitivamente a resposta é sim. Não fosse, não existiriam os alimentos orgânicos. Se não for possível a eliminação, há a possibilidade muito concreta da adoção de práticas que contribuem para uma expressiva redução.
Mas quando falamos em usar menos produtos químicos na produção agrícola, não falamos apenas em benefícios à saúde. O bolso do produtor também vê resultados. Evidentemente, o uso racionalizado desses produtos reduz a quantidade deles aplicada e também a necessidade de mão-de-obra.
No ano de 2017, foram gastas mais de 500 mil toneladas de defensivos nos campos de produção brasileiros, conforme dados do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). Os produtos escolhidos e suas quantidades variam de produtor para produtor, de cultura para cultura. Em algumas culturas, como a soja e a maçã, o uso de defensivos químicos para controle de pragas e doenças representa aproximadamente 30% do total de gastos com a produção.
Para o bem do bolso dos produtores e da saúde das comunidades, reduzir agroquímicos é uma necessidade. Mas como fazer isso então? Selecionamos os principais modos de fazer isso!

Manejo integrado

Quando a palavra de ordem é redução, falamos de manejo integrado. Como já apresentado em artigos anteriores, este tipo de agricultura reúne um conjunto de ações de diferentes tipos de manejo para uma tomada de decisão que seja o mais ambientalmente, socialmente e economicamente equilibrada.
Neste tipo de manejo se estabelece limites para o uso de agroquímicos e busca-se utilizar produtos menos tóxicos. Mas para que as decisões sejam tomadas, é necessário monitoramento constante do campo de produção. E os resultados aparecem. Estudos realizados pela Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) em soja já demonstraram redução de 50% nos custos de produção quando comparado com o manejo convencional.

Condições ótimas

Produzir determinada cultura na região que possui as condições ideais para o seu desenvolvimento faz com que ela expresse seu pleno vigor. Plantas vigorosas são mais resistentes ou tolerantes ao ataque de pragas e doenças.

Correta nutrição

Uma boa nutrição das plantas também pode torná-las mais fortes para enfrentar inimigos, ajudando na redução do uso de defensivos químicos. Mas preste atenção: uma boa nutrição não é sinônimo de fartura de nutrientes. A nutrição por meio de fertilizantes deve ser equilibrada e na dose certa. Não apenas a falta, mas também o excesso de nutrientes pode resultar em problemas para o cultivo, inclusive podendo tornar as plantas mais suscetíveis ao ataque de pragas.

Cultivo protegido

A utilização de estruturas artificiais compostas de diferentes tipos de materiais pode garantir diferentes graus de proteção aos cultivos. Estruturas herméticas podem dificultar ou mesmo impedir a entrada de insetos, mas se o material delas for telas que permitam a passagem da água da chuva, haverá as condições ideais para o desenvolvimento de fungos. É preciso saber escolher o material mais adequado para a atividade que se pretende desenvolver.
Este tipo de tecnologia representa um investimento elevado com sua instalação, mas pode ser bastante eficiente a longo prazo na redução do uso de defensivos químicos. Em culturas de alto valor, é um investimento que vale a pena, pois permite que se crie ambientes com condições inteiramente controladas.

Momento e condições de aplicação

Um fator que pode contribuir para uma menor utilização de defensivos químicos no cultivo é a própria aplicação deles. Se for feita de modo correto, com certeza ocorrerá economia. Não apenas de dinheiro, mas de tempo. Escolher o momento adequado pode evitar aplicações ineficientes, que levam à perda de produto e à necessidade de novas aplicações. É o que acontece quando não se atenta a previsão do tempo ou opta-se por pulverizações em horas quentes do dia. É importante evitar chuvas, temperaturas muito altas e ventos muito fortes.
Estando no momento ideal, é hora de acertar na formulação do produto a ser aplicado e no equipamento utilizado para essa atividade. O produto deve ser adequado, escolhido com base nas orientações de um profissional qualificado, que emitirá um receituário agronômico, ou na consulta a uma base de dados confiável, como a AGROFIT. A diluição deve ser feita conforme orientações do fabricante – que conhece melhor do que ninguém o seu produto e sabe onde será utilizado – e utilizando água livre de impurezas, as quais podem causar obstrução de equipamentos. O pulverizador deve ser regulado e a escolha do melhor bico de aspersão fecha a lista de exigências para um procedimento eficiente.

Sensoriamento remoto e Agricultura de Precisão

Essas são as ferramentas mais modernas e mais promissoras para a solução de diversas questões na produção agrícola. Máquinas e sensores trabalham juntos. Muito utilizado para a detecção de plantas daninhas em meio aos cultivos. Sensores detectam a presença de plantas indesejadas e a informação é transmitida à máquina, que aplica herbicida apenas onde necessário. Assim, ocorre economia substancial de defensivos deste tipo.
Os sensores fazem boa parte do trabalho. São eles que geram, por exemplo, os dados que serão usados para compor mapas do estado físico das plantas da lavoura ou pomar. E a máquina só pulveriza defensivo nas regiões ou plantas do mapa cuja legenda indicar uma redução do vigor. Há também a possibilidade de gerar mapas de distribuição de pragas. Mas para isso, é necessário um monitoramento e amostragem do cultivo.
A plataforma Demetra, da Elysios, pode contribuir com a economia sendo a ferramenta tecnológica que armazena os mapas e registros necessários, evitando esquecimentos e sobreposição de doses na aplicação de defensivos nos talhões que compõem a propriedade.

A seguir confira alguns “casos de sucesso”, em que as formas possíveis de se reduzir a quantidade de defensivos químicos nos cultivos, discutidas até agora, foram postas em prática e obteve-se êxito.

Citros

Na produção de citros, o controle químico da principal praga destas culturas tem sido substituído pelo uso de inimigos naturais. Testes feitos com produto à base do fungo Isaria fumosorosea resultaram numa média de 80% de controle do Greening nos campos onde foi aplicado. Sua utilização contribui não apenas com a proteção do meio ambiente, mas a longo prazo se constitui numa forma mais eficiente de controle, sem ocorrência de casos de resistência.
Mas quando o assunto são outras doenças que causam danos em citros, há outros tipos de estratégias sendo desenvolvidas e que podem ajudar a reduzir o uso de defensivos químicos. Pesquisadores de empresas privadas no Estado de São Paulo estudam o uso de sensores espectrais para detecção de sintomas de doenças nos pomares. Os sensores podem ser acoplados a drones e desempenhar seu papel até mesmo a grandes altitudes.

Maçã

A maçã foi pioneira entre os sistemas de produção integrada no Brasil. Segundo o Anuário Brasileiro de Fruticultura, mais de 60% das áreas da região sul do Brasil onde a maçã é cultivada já adotaram este sistema de manejo, que começou a ser implementado em 1996.
Análises econômicas já mostraram que este tipo de manejo especificamente na produção da macieira nem sempre leva a uma redução de custos. No caso da produção integrada de maçã (PIM), o uso de defensivos químicos representa cerca de 30% do total dos custos de produção. Entretanto, este tipo de manejo contribui fortemente para que a produção conquiste certificações que garantirão um maior preço nas prateleiras dos supermercados, gerando maiores lucros ao produtor. Mas não apenas isso: se destacará, conquistando novos mercados consumidores.

Uva

No Estado de São Paulo, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) realizou estudos com cobertura impermeável de parreirais e constatou um grande aumento na produtividade e redução de 70% na aplicação de defensivos agrícolas. A cobertura plástica impede a presença de água livre proveniente de chuvas sobre cachos e folhas. Assim, é menor a incidência das principais doenças que atacam a videira.
Há muito tempo que já se fala em uso de ambientes protegidos visando à redução de aplicação de produtos químicos. Em 2005, por exemplo, o pesquisador Henrique Pessoa dos Santos, da Embrapa Uva e Vinho, lançou trabalho científico que comprovava reduções médias de 89% nas aplicações de fungicidas nos parreirais cultivados sob telados plásticos.

O consumidor tem o direito de saber o que está levando para sua mesa e até mesmo como foi produzido. Os meios de produção são uma escolha do produtor, e aceitar seus critérios é uma escolha do consumidor. Independente do caminho, tudo deve ser registrado para que se tenha conhecimento posteriormente.

Esses registros garantem a rastreabilidade. De acordo com um conjunto de leis do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), fica definido que rastreabilidade é o conjunto de procedimentos que permite detectar a origem e acompanhar a movimentação de um produto ao longo da cadeia produtiva, mediante elementos informativos e documentais registrados. 

Os mesmos órgãos federais lançaram a Instrução Normativa Conjunta n.º2/2018 – que gradativamente, no período de agosto de 2018 a agosto de 2021, tornou obrigatório o sistema de rastreabilidade nas unidades de produção agrícola. Ou seja, fornecer ao mercado consumidor as informações referentes a toda a trajetória do produto, desde o plantio até a chegada ao comércio/indústria. 

A rastreabilidade está intimamente ligada ao conceito de Gestão da Qualidade. Se podemos rastrear um produto e saber todas as suas características e histórico de produção, sabemos se tal produto é bom mesmo e se podemos confiar, sobretudo de que nossa saúde não será prejudicada. Essas são exigências básicas dos compradores diretos, que por sua vez dependem da aprovação do consumidor final: nós. Para varejistas e grandes compradores desses produtores, serve para segurança alimentar, assim como garantir previsibilidade de quantidade e qualidade de seus fornecedores, garantindo uma entrega constante para seus clientes.

Quando você for ao supermercado comprar frutas e verduras, vai encontrar algumas embalagens com etiquetas que contêm dados básicos do produtor, como nome e endereço. Nesta mesma etiqueta pode estar presente a data da colheita e um código de barras ou QR code (tipo de código facilmente escaneado pela maioria dos telefones celulares) que dará acesso a informações mais detalhadas sobre o produto que você pensa em comprar. 

E como funcionam esses registros de que tanto falamos?

A prática primordial do produtor rural que poderá garantir a rastreabilidade de sua produção é manter um caderno de campo atualizado. Isso significa registrar a maior quantidade possível de dados referentes a um cultivo. Data da colheita dos diferentes lotes da propriedade, as atividades de manejo realizadas, aplicação de fertilizantes e defensivos. 

Mas com a plataforma Demetra, da Elysios, a organização da propriedade rural vai além! Um sistema de fácil uso permite que o produtor organize cada setor de plantio de sua propriedade através do computador ou celular. Um menu com diversas opções reúne todas as informações que precisam estar à mão. Hoje em dia, uma série de cliques e um teclado substituíram o papel e a caneta. O histórico de uma propriedade rural não ocupa mais várias pastas dentro de gavetas, onde muitas vezes registros possivelmente incompletos permaneciam sem ser revisitados.

Na plataforma estarão os dados básicos da unidade de produção e do seu proprietário, assim como mapas onde aparece a separação em talhões ou setores. Também é possível salvar dados das análises de laboratório que foram feitas na propriedade, tais como análises de solo ou de tecidos das plantas para investigação do estado nutricional dos cultivos. E na opção logo abaixo, há o histórico de visitas de profissionais técnicos. 

A cereja do bolo, no que se refere a rastreabilidade, é a possibilidade de realizar o cadastro de clientes e de gerar as etiquetas com as informações para a rastreabilidade. A partir da plataforma, o produtor saberá para onde seu produto foi. Isso torna prático o processo de investigação em caso de problemas nos lotes despachados. Da mesma forma, os compradores saberão a quem recorrer tendo em mãos a etiqueta gerada pelo próprio produtor. 

No entanto, se o produtor quiser não apenas estar em conformidade com as legislações vigentes, mas também ser mais facilmente aceito pelos mercados consumidores, se faz necessária a adoção de uma série de boas práticas durante o cultivo. A adoção dessas práticas leva a uma série de outros benefícios e a rastreabilidade pode ser encarada também como uma forma de o mercado consumidor conhecer o produto de qualidade que foi obtido com a adoção de tais práticas. São elas:

Manejo do solo com técnicas de conservação

O manejo adequado do solo desde o plantio das culturas representa um benefício tanto para o agricultor quanto para o meio ambiente. A adoção de técnicas de conservação do solo, como o plantio em curvas de nível e a cobertura do solo, contribui para a minimização do processo natural de erosão e a consequente perda de solo. Assim, menos recursos serão investidos para a recuperação da estrutura e fertilidade do solo, e rios e lagos sofrerão menos com assoreamento e poluição orgânica. 

Adubação adequada

A adubação dos cultivos deve ser feita com base no resultado da análise de solo, a fim de se evitar danos às plantas e também gastos desnecessários com adubos. O excesso de nutrientes compromete a produtividade das plantas e a qualidade interna e externa do produto final. 

O prejuízo financeiro começa de modo direto, quando o produtor gasta mais capital para realizar a adubação, e continua de modo indireto quando o comprador deixa de adquirir seu produto por ser mais caro (já que por conta de um erro de dosagem o custo de produção tornou-se mais elevado). Se o processo de adubação da produção for fielmente registrado, a rastreabilidade pode até mesmo indicar tais falhas. 

Manejo integrado de pragas

Esse tipo de manejo de pragas combina diferentes formas de controle, podendo contar com métodos químicos e biológicos numa mesma estratégia, visando reduzir a quantidade de pragas no cultivo. A observação da lavoura ou do pomar é fundamental para decidir a melhor maneira de agir, sempre buscando a racionalização do uso de defensivos agrícolas.

Com o sistema Demetra você tem a facilidade de fazer seus registros de monitoramento através do aplicativo mobile, e dessa forma, atender às demandas com certificações que exigem a comprovação de que o processo de MIP foi realizado.


Gestão de Vendas e Clientes

Atualmente é preciso cada vez mais que o agricultor tenha em mente seu cultivo como uma empresa, e, tal como um empresa, realize a gestão de seus clientes, assim como das informações da produção vendida para eles. Dessa forma consegue facilmente acompanhar as informações gerenciais de resultado da propriedade, como também rastrear rapidamente a produção que ele fornece ao cliente.


Registro fiscal das operações de venda

Ao emitir nota fiscal em suas vendas, o produtor comprova o respeito às leis, ao mesmo tempo que também atesta sua credibilidade e a legitimidade do seu negócio. Além disso, a emissão de nota fiscal é mais um meio para comprovar a rastreabilidade.

Rotulagem dos produtos

Conforme consta na Portaria Conjunta SES/SAR n° 459 de 07 de junho de 2016, para a identificação da origem do produto, os produtores primários e fornecedores da cadeia deverão informar, no mínimo: 

  • Nome do produtor primário (Razão Social, Nome Fantasia), 
  • Inscrição Estadual ou CPF ou CNPJ, 
  • endereço completo, 
  • peso ou unidade, 
  • código de rastreabilidade do produto, 
  • número do lote ou lote consolidado, 
  • nome comum da espécie vegetal, a variedade ou cultivar, a 
  • data da colheita, 

Levando em conta que não deve prejudicar outras normas estabelecidas. Estas informações devem ser apresentadas na forma de etiqueta.

Devido a grande quantia de informações e a necessidade de apontar corretamente todas elas, muitos agricultores estão utilizando mais a plataforma Demetra

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